O Tempo da Criação é a celebração cristã anual de oração e ação pela nossa casa comum. Juntos, a família ecuménica no mundo inteiro une-se para proteger e defender a criação de Deus.
O tempo começa no dia 1 de setembro, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e termina a 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, o padroeiro da ecologia amado por muitas denominações cristãs.
O Papa Francisco mostra-nos consistentemente uma liderança profética em relação a esse objectivo. Por três anos consecutivos, ele deu início à celebração deste mês convidando os católicos e católicas a unirem-se à família cristã global em oração e ação pela criação de Deus.
Tempo da Criação 2021
Todos os anos, de 1 de setembro a 4 de outubro, a família cristã une-se para a celebração mundial de oração e ação pela proteção da nossa casa comum. Como seguidores e seguidoras de Cristo, de todos os cantos do mundo, partilhamos um papel comum de guardiões e guardiãs da criação de Deus. Percebemos que nosso bem-estar está interligado com o bem-estar da criação. Alegramo-nos com esta oportunidade de cuidar de nossa casa comum e das irmãs e irmãos que nela habitam. Neste ano, o tema para este tempo é «Uma casa para todos? Renovando o Oikos de Deus».
Convite dos líderes religiosos para o Tempo da Criação
Caras irmãs e irmãos em Jesus, nosso Salvador e Senhor,
Do dia 1 de setembro a 4 de outubro, a família cristã celebra o belo dom da criação. Esta celebração global teve início em 1989 com o reconhecimento do Dia de Oração pela Criação por parte do Patriarcado Ecuménico, sendo hoje adotado pela comunidade ecuménica mais ampla. A oração é uma experiência e ferramenta poderosa para aumentar a conscientização e promover relações e ministérios transformadores.
O nosso tema este ano é «Uma casa para todos? Renovando o oikos de Deus». Esperamos trabalhar juntos para desenvolver um horizonte bíblico e cosmológico mais amplo, não apenas para sermos edificados pelos próprios textos, mas para desenvolvermos uma nova maneira de ver as Escrituras, a vida e a Terra, tudo no Oikos de Deus, e reconhecer a sabedoria de incontáveis irmãs e irmãos que ajuda a todos a renovar nosso mundo como uma amada comunidade global interligada e interdependente.
Nos Génesis, Deus colocou um firmamento, ou domo, sobre a Terra. A palavra "domo" é de onde obtemos palavras como "domicílio" e "doméstico" - por outras palavras, Deus coloca todos nós - todas as pessoas, toda a vida - sob o mesmo teto deste domo - estamos todos na casa, o oikos de Deus. Deus deu aos humanos o ministério de cultivar e guardar este oikos de Deus. O Rev. Dr. Martin Luther King Jr. e outros chamaram o oikos de Deus de “a Comunidade Amada”, uma comunidade na qual todos os seres vivos são igualmente membros, embora cada um tenha um papel diferente.
O oikos é uma casa para todos, mas agora está em perigo por causa da ganância, exploração, desrespeito, desconexão e degradação sistemática. Toda a criação ainda está a clamar. Desde o alvorecer da Revolução Industrial a geografia onde reconhecemos o poder criativo de Deus continua a diminuir. Hoje, apenas fragmentos da consciência humana reconhecem Deus a agir para restaurar e curar a Terra. Esquecemos que vivemos na casa de Deus, o oikos, a Comunidade Amada. A nossa interligação fundamental foi, na melhor das hipóteses, esquecida e, na pior, negada deliberadamente.
Esperamos e pedimos que nos possamos tornar novamente esta comunidade amada de discipulado intencional. Esperamos ir além dos aspetos programáticos e didáticos da vida para a vida profética e espiritual, para a ação e modo de vida, que é moldado por Jesus.
Que sejamos líderes para a renovação da vida, servos e servas de toda a vida na Comunidade Amada, o oikos de Deus.
Na graça de Deus,
Membros do Comité Consultivo do Tempo da Criação
O tema de 2021: «Uma casa para todos? Renovando o oikos de Deus»
Em cada ano, o comité diretivo ecuménico que organiza o Guia da Celebração propõe um tema para o Tempo da Criação. O tema de 2021 é «Uma casa para todos? Renovando o Oikos de Deus».
O salmista proclama: «ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém». Há duas declarações de fé no centro deste versículo. A primeira é que toda criatura pertence à comunidade da Terra. A segunda é que a comunidade inteira pertence ao Criador. Uma palavra grega para essa comunidade da Terra é oikos. Oikos é a raiz da palavra oikoumene, ou ecuménico, que descreve a nossa "casa comum", como o Papa Francisco lhe chama na Laudato Si’. A nossa casa comum, a Terra, pertence a Deus, e cada criatura amada pertence a esse oikos comum.
Enraizando nosso tema no conceito de oikos, destacamos a teia integral das relações que sustentam o bem-estar da Terra. A palavra ecologia (oikologia) descreve as relações entre animais, plantas, organismos não-sencientes e minerais, cada um com uma função vital para manter o equilíbrio desta comunidade amada. Cada criatura é importante e contribui para a saúde e resiliência do ecossistema em que vive com a sua biodiversidade. Os seres humanos pertencem à relação correta dentro dessa comunidade da Terra. Somos feitos da mesma matéria que a Terra, e somos cuidados
pelas nossas cocriaturas e pelo solo.
As relações humanas também têm um significado ecológico. Relações económicas (oikonomia), sociais e políticas afetam o equilíbrio da criação. Tudo o que fabricamos, usamos e produzimos tem a sua origem na Terra, tanto os minerais, como as plantas ou os animais. Os nossos hábitos de consumo de energia e de bens afetam a resiliência dos sistemas planetários e a capacidade da Terra de se curar a si mesma e sustentar a vida. As relações políticas e económicas têm efeitos diretos na família humana e nos membros “mais-que-humanos” do oikos de Deus. Gênesis 2, 15 lembra-nos que entre as cocriaturas, Deus deu aos humanos uma vocação especial de cultivar e guardar o oikos de Deus.
A nossa fé, razão e sabedoria são necessárias para sustentar relações ecológicas, sociais, económicas e políticas justas. Pela fé, unimo-nos ao salmista lembrando que não somos guardiões e guardiãs de uma criação inanimada, mas cuidadores e cuidadoras inseridos numa comunidade da criação dinâmica e viva. A Terra e tudo o que ela contém é um dom que nos é dado com confiança. Não somos chamados a dominar, mas a salvaguardar. Pela razão, nós discernimos a melhor forma de salvaguardar as condições
para a vida e de criar estruturas económicas, tecnológicas e políticas que se enraízem nos limites ecológicos da nossa casa comum. Pela sabedoria, prestamos atenção cuidadosa aos sistemas naturais e aos seus processos, às sabedorias herdadas e das tradições indígenas, e à revelação de Deus na palavra e no Espírito.
Há séculos, nós, humanos (anthropoi) ordenamos as nossas vidas e as nossas economias de acordo com a lógica dos mercados e não dos limites da Terra. Esta lógica falsa explora o oikos de Deus e faz da criação um meio para fins económicos e políticos. A atual exploração do solo, das plantas, dos animais e minerais em função do o lucro resulta na perda de habitats que são a casa de milhões de espécies, incluindo humanos cujas casas ficam sob o risco dos conflitos climáticos, perdas e danos. A razão diz-nos que, nesta era do antropoceno, a desintegração e exclusão ecológica e social causam a atual crise climática e aceleram a instabilidade ecológica. A sabedoria torna-nos prontos para encontrar as respostas e os caminhos para construir economias de vida sustentáveis e sistemas políticos justos que possam sustentar a vida para o planeta e para as pessoas.
A fé faz-nos confiar que o Espírito de Deus renova a face da Terra constantemente. Neste horizonte de esperança, o nosso chamamento batismal liberta-nos para retornarmos à nossa vocação humana de cultivar e guardar o jardim de Deus. Em Cristo, Deus chama-nos a participar da renovação de toda a Terra habitada, salvaguardando um lugar para cada criatura e recriando relações justas entre toda a criação.
Durante este Tempo da Criação litúrgico, a família cristã ecuménica chama cada casa e toda a sociedade para se arrepender e reformular os nossos sistemas políticos, sociais e económicos rumo a economias de vida justas e sustentáveis, que respeitem os limites ecológicos vitais da nossa casa comum.
Esperamos que este Tempo da Criação renove a nossa unidade ecuménica no nosso chamamento batismal para cuidar e sustentar uma viragem ecológica que garanta que todas as criaturas encontram uma casa onde possam florescer e participam da renovação do oikos de Deus.
Oração
Criador de todas as coisas,
Nos Te agradecemos porque, na Tua comunhão de amor, criaste o nosso planeta para ser uma casa para todos. Pela Tua Sagrada Sabedoria, fizeste a Terra para produzir uma diversidade de seres vivos que enchem o solo, a água e o ar. Cada parte da criação Te louva no seu ser e cada criatura cuida das outras a partir do seu próprio lugar na teia da vida.
Com o salmista, nós Te louvamos porque na Tua casa «até o pássaro encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhos». Lembramos que chamas os seres humanos para cuidarem do Teu jardim honrando a dignidade de cada criatura e conservando os seus lugares na abundância de vida na Terra.
Mas sabemos que a nossa vontade de poder empurra o planeta além dos seus limites. O nosso consumo está fora da harmonia e fora do ritmo da capacidade da Terra de se curar. Os habitats ficam estéreis ou perdidos. As espécies perdem-se e os sistemas falham. Onde antes os recifes, as tocas, os cumes das montanhas e as profundezas do oceano fervilhavam de vida e de relações vivas, agora desertos áridos e secos jazem vazios, como se não tivessem sido criados. As famílias humanas são deslocadas pela insegurança e pelos conflitos, migrando em busca de paz. Os animais fogem de incêndios, desmatamento e fome, vagueando em busca de um novo lugar para encontrarem uma casa para os seus filhotes e para viver.
Neste Tempo da Criação, rezamos para que o sopro de Tua Palavra criadora toque os nossos corações, como as águas do nosso nascimento e do nosso batismo. Dá-nos fé para seguir Cristo até ao nosso lugar propício na comunidade amada. Ilumina-nos com a graça de respondermos à Tua aliança e ao Teu chamamento para cuidarmos da nossa casa comum. No nosso cultivo e no nosso cuidado, alegra os nossos corações por sabermos que participamos com Teu Espírito Santo na renovação da face da Tua Terra e na salvaguarda de uma casa para todos.
Em nome daquele que veio proclamar a boa nova a toda a criação, Jesus Cristo.
Amém.
Página web do Tempo da Criação
Guião para a celebração do Tempo da Criação 2021
Comissão Diocesana para o Ecumenismo
Casa Diocesana – Seminário de Vilar
Rua Arcediago Van Zeller, 50
4050-621 PORTO
Telm. 91 874 33 62
Inédito: o Papa, o patriarca e o arcebispo juntam-se pela proteção da criação
Manifestação pelo Clima, na greve climática estudantil, em Lisboa, a 29 de novembro de 2019. Foto © Greve Climática Estudantil.
É um gesto único e inédito aquele que tiveram o Papa Francisco, o patriarca ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, e o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, ao assinarem uma mensagem conjunta para a proteção da criação — um termo que desde os anos 1990 faz caminho entre os cristãos no debate sobre as questões ambientais e ecológicas.
“Demo-nos conta que, perante esta calamidade mundial, ninguém está a salvo até que todo o mundo esteja salvo, que as nossas ações realmente afetam os outros, e que o que fazemos hoje influencia o que acontecerá amanhã”, lê-se no texto dos três responsáveis cristãos, divulgado esta terça-feira.
A mensagem convida a considerar a calamidade mundial como uma oportunidade, que “não se pode desperdiçar”. “Devemos decidir que tipo de mundo queremos deixar para as gerações futuras. Devemos escolher viver de forma diferente; devemos escolher a vida”, escrevem Francisco, Bartolomeu e Justin.
Papa Francisco e patriarca Bartolomeu I, em Jerusalém, em 2014. Foto: ניר חסון Nir Hason, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons.
Os três lembram que se maximizam os interesses do presente “às custas das gerações futuras” e apontam que se, por um lado, a tecnologia abriu novas possibilidades de progresso, por outro induziu a “acumular riquezas desenfreadas” com pouca preocupação com as outras pessoas ou com os limites do planeta. “A natureza é resistente, mas delicada. Temos a oportunidade de nos arrepender, de voltar atrás com decisão”, apontam.
A mensagem retoma várias vezes o conceito básico de que as mudanças climáticas não são apenas um desafio futuro, mas uma questão imediata e urgente de sobrevivência — já no presente. “Diante de uma profunda injustiça: as pessoas que sofrem as consequências mais catastróficas destes abusos são as mais pobres do planeta e foram as menos responsáveis por causá-las”, apontam.
Na mensagem conjunta dos três responsáveis cristãos destaca-se o pedido de “colaboração cada vez mais estreito entre todas as igrejas no seu compromisso com o cuidado da criação”.
“Juntos, como comunidades, igrejas, cidades e nações, devemos mudar de rumo e descobrir novos caminhos de trabalhar juntos para abater as barreiras tradicionais entre os povos, para parar de competir por recursos e começar a colaborar”, escreveram.
O Papa Francisco, Bartolomeu I e o arcebispo Welby convidam os líderes mundiais a rezarem antes da 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), que será realizada em Glasgow, de 1 a 12 de novembro próximo.
“Esta é a primeira vez que nós os três sentimo-nos compelidos a abordar juntos a urgência da sustentabilidade ambiental, o seu impacto na pobreza persistente e a importância da cooperação global. Juntos, em nome das nossas comunidades, apelamos ao coração e à mente de cada cristão, cada crente e cada pessoa de boa vontade. Oramos pelos nossos líderes que se encontrarão em Glasgow para decidir o futuro do nosso planeta e do seu povo. Mais uma vez, lembramo-nos das Escrituras: “Escolhe a vida, para que tu e a tua descendência vivam” (Dt 30:19). Escolher a vida significa fazer sacrifícios e exercer moderação.”
Retrato oficial do arcebispo de Cantuária, Justin Welby.
Foto: Roger Harris, CC BY 3.0, via Wikimedia Commons.
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